sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Adriana Moura encadena a via "Filezão" 9c na Barrinha, RJ.

A escaladora carioca Adriana Moura acaba de entrar para o Hall das mulheres brasileiras a escalar uma via cotada em 9c (8a fr) com a cadena da via "Filezão" na falésia da Barrinha, RJ.

Adriana Moura na via "Filezão" - foto: Toti Jordan.

Depois de algum tempo se dedicando a esse projeto, a escaladora anuncia o sucesso de sua empreitada colocando seu nome na seleta lista das mulheres que conseguiram alcançar esse nível de dificuldade no Brasil. E não para por ai, Adriana está em busca de sua primeira via cotada em 10a.

Adriana Moura na via "Filezão" - foto: Toti Jordan.

Além dos projetos na escalada esportiva a escaladora também é conhecida na região por escalar diversas vias de parede, participando de cordadas em vias difíceis com escaladores de renome.

 
Adriana Moura na via "Filezão" - foto: Toti Jordan.










quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Episódio 8 "Montanhistas" Canal Off - Campo Escola 2000

Depois de escalar a Pedra do Elefante na região serrana do Rio de Janeiro, voltamos para a cidade maravilhosa dessa vez para mostrar um pouco da modalidade mais praticada do montanhismo nos dias de hoje: a escalada esportiva.

No coração de uma das maiores florestas urbanas do mundo, a Floresta da Tijuca, está localizada a falésia do Campo Escola 2000 que fica dentro do Parque Estadual da Tijuca (P.E.T.). Um dos lugares que fizeram parte da história e da evolução dessa modalidade no país.

Foi muito empolgante relembrar algumas histórias que passei com o Hugo, quando estávamos começando a escalar juntos e tentávamos as mesmas vias. Muito importante também foi tentar explicar um pouco sobre a diferença entre as modalidades do montanhismo, seus objetivos, características e exigências.

Flávio Passos na via "Zona Morta" - foto: Flávio Passos arquivo flickr.

Chegamos cedo no parque, visitamos uma cachoeira que costumávamos frequentar nos dias quentes, entre uma escalada e outra corriamos ali para tomar uma ducha e refrescar o forte calor do verão carioca. Fizemos a curta trilha que leva até a falésia, chegamos ainda cedo na base e não tinha ninguém escalando. Por ser uma escalada curta e rápida, é normal encontrar escaladores lá ou até mesmo grupo de crianças e escoteiros fazendo um giro pelas grutas ao redor.

Ali, na falésia do Campo Escola 2000, passamos alguns anos aprendendo a desenvolver a técnica e a força que esse tipo de escalada exige, conhecemos bem quase todas as vias porque foram nelas que nossa geração aprendeu a escalar.

 Felipe Assad na via "Migalhas Indecentes" - foto:Cláudio Brisighello.
 
Equipei a via "Coquetel de Energia" e aproveitei para escalar nela primeiro enquanto restava energia para isso. É uma via que exige muita concentração, porque as agarras são pequenas e os movimentos explosivos. Passei um bom tempo fazendo ela com uma queda e parecia que a cadena (termo usado para determinar o sucesso da escalada, que é quando o escalador sai do chão e vai até o topo da via sem quedas, apenas segurando na pedra com as mãos e os pés e sem usar pontos de apoios artificiais.) estava cada vez mais perto, quando infelizmente tive uma lesão que me obrigou a deixar de tentar a via. Apesar de estar bastante tempo sem escalar esse tipo de modalidade, entrei muito bem e no fim fiquei satisfeito com a tentativa, mas para preservar a pele dos dedos resolvi tentar outra via nesse mesmo dia. 

Bernardo Biê na via "Coquetel de Energia" - foto: Guilherme Taboada.

Era a vez do Hugo escalar e nada melhor do que uma das vias esportivas mais clássicas e bonitas que existe. A "Gosma Petzl" foi a via que juntos aprendemos muita coisa. Na época, a gente não imaginava onde a escalada e o montanhismo poderia nos levar. Ensaiamos muitas vezes os movimentos dessa via e sempre que tentávamos a tão sonhada cadena um apoiava o outro, incentivava como podia. No dia que o Hugo passou o lance que nos derrubava, ele finalmente conseguiu a cadena nessa via, de tão empolgante que foi eu subi e também consegui a cadena motivado pela gana que vi ele dando. O Hugo equipou a via e depois de descansar um pouco escalou como se tivesse entrado nela no dia anterior, mesmo fazendo longa data desde a última escalada nessa falésia.


Bernardo Biê na via "Coquetel de Energia" - foto: Guilherme Taboada.
 

 Já no final do dia com a pele dos dedos bem fina e comprometida, entrei na via "História sem fim" - que na minha opinião é a via com os movimentos mais plásticos da região. Exigente e prazerosa de escalar, essa via foi alvo de muita polêmica durante os anos seguintes a sua conquista, fez parte da história da escalada esportiva e foi mencionada anteriormente aqui no blog.

Os detalhes dessa história não são bem claros, mas ela foi um grande exemplo para a minha geração. Depois de todas histórias de superação por parte de uns e decepção por parte de outros, a via acabou não sendo escalada saindo do chão. Os escaladores se puxavam na corda até a primeira proteção para dali então começar a via, que dessa forma já era bem exigente e alcançava um alto nível de dificuldade. Quando comecei a tentar essa via, há alguns anos atrás, a possibilidade de fazer ela saindo do chão ao invés de puxar na corda até a primeira proteção já existia, mas era algo realmente dificil. Depois de muitas tentativas consegui sair do chão e chegar ao topo, concretizando o que seria a primeira cadena dessa via nos moldes que ela se encontra hoje - e que provavelmente será os moldes que as próximas gerações encontrarão...assim espero!

As escaladas no Campo Escola 2000, assim como todas as escaladas que fazemos independente do nível de dificuldade, proporcionam experiências e aprendizados que usamos na vida. Seja sobrevivendo num lugar hostil em grandes paredes, se desafiando em uma escalada esportiva extrema ou atravessando uma rua dentro da cidade, a vontade e a motivação de viver e sobreviver são as mesmas.


Por Bernardo Biê